Talvez seja hora de reavivar conceitos que, de tão comuns, não são devidamente trabalhados com as novas gerações que chegam às salas de aula e aos laboratórios de pesquisas
por Dimas A. M. Zaia, Rogério F. de Souza, Tiemi Matsuo, Cássia Thaïs B. V. Zaia e Silvia Ponzoni
© Images.com/Corbis Latinstock
Há algum tempo iniciamos uma pesquisa visando detectar o grau de aceitação/rejeição de teorias como origem da vida, do Universo e evolução entre alunos de graduação da Universidade Estadual de Londrina, no Paraná. Embora não tenhamos o mesmo nível de conflito frequentemente observado em países como os Estados Unidos, marcados pelo criacionismo, acreditamos que esse problema seja pouco dimensionado no Brasil, considerando a carência de informações a esse respeito na literatura especializada.
Originalmente nosso grupo de análise selecionou alunos de licenciatura e bacharelado de diferentes cursos. Os resultados mostraram um grau relativamente baixo de rejeição a esse tema: por volta de 8,9%. Assim como em outros países, os mais refratários ao darwinismo estão concentrados entre o que classificamos em nossa pesquisa
como “cristãos não católicos”. E aqui fizemos uma constatação: há uma íntima relação entre o grau de instrução dos pais e a aceitação ou não da teoria evolutiva por parte dos entrevistados. Filhos de pais mais instruídos aceitam o darwinismo.
Em contraposição nos chamou a atenção a frequência de comentários como “evolução é somente uma teoria” ou “teorias podem ser mudadas com o tempo” nos questionários devolvidos por diferentes estudantes. Em alguns casos foi possível perceber nas entrelinhas que, para muitos deles, o conceito de teoria científica está estrito a um conjunto de ideias ainda sem comprovação. Isso nos estimulou a desenvolver um novo projeto que permitisse compreender minimamente como nossos estudantes interpretam a expressão “teoria científica” e alguns de seus componentes mais básicos. Os resultados que apresentamos foram extraídos de 621 alunos entrevistados — do primeiro ao quarto ano dos cursos de história, filosofia, química, física, geografia, biomedicina, ciências biológicas e medicina. Para facilitar a análise dos dados esses estudantes foram agrupados em três grandes áreas: ciências humanas, exatas e biológicas.
Uma informação que tentamos obter foi se eles teriam tido, em algum momento da sua educação formal, a informação explícita sobre como as teorias científicas são estabelecidas e/ou fundamentadas. Neste caso, 30% dos entrevistados responderam que nunca haviam tido qualquer explicação a esse respeito. Dos que responderam positivamente, 46% afirmaram que haviam aprendido esses conceitos na universidade e/ou em outras situações, como no ensino fundamental e médio, ou nos cursinhos pré-vestibular. Em seguida, perguntamos onde o termo teoria científica seria aplicado, dando a eles três opções de escolha. Em média, 56% dos entrevistados optaram pela definição de que, em ciência, a expressão “teoria científica” seria aplicada nas situações onde existiriam “muitos dados experimentais disponíveis para explicar determinado fenômeno natural”; 20% escolheram a opção “poucos dados experimentais” e 24% preferiram a opção “ainda não existiriam dados experimentais suficientes”.
No último caso, não houve diferenças estatisticamente significativas entre os três grupos de entrevistados (humanas, biológicas, exatas). Esse resultado é uma surpresa,
pois seria de esperar que os alunos das áreas biológicas e exatas, em princípio, devessem estar mais familiarizados com o significado da expressão que os alunos agrupados na área de ciências humanas, com maior conhecimento a esse respeito.
Também procuramos estabelecer o grau de conhecimento dos estudantes quanto a alguns termos utilizados em ciência. Nesse caso, perguntamos se eles concordariam ou discordariam de três afirmativas. Para a opção “Uma hipótese que não possa ser submetida a testes ou ser refutada não pode ser considerada uma hipótese científica”, houve diferenças estatisticamente significativas entre os entrevistados das três grandes áreas.
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