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Bouazizi virou símbolo de resistência no mundo árabe |
Mohamed Bouazizi era um jovem vendedor de frutas e legumes que sustentava uma família de oito pessoas com menos de US$ 150 (cerca de R$ 278) por mês.
Sua maior ambição era trocar o carrinho de mão que usava para vender seus produtos por uma caminhonete.
''Naquele dia, Mohmaed saiu de casa para vender seus produtos como sempre fazia'', disse sua irmã Samya.
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Mãe de feirante diz que morte de seu filho serviu para fazer da Tunísia um país melhor |
''Mas quando ele os colocou à venda, três inspetores do governo pediram propinas. Mohamed se recusou a pagar'', recorda ela.
''Eles apreenderam os produtos e os colocaram dentro de seu carro. Eles tentaram retirar suas balanças, mas Mohamed se recusou a entregá-las, por isso eles bateram nele.''
Há relatos, não confirmados, de que uma fiscal teria insultado Samya e cuspido em seu rosto. Mas quer isso tenha também ocorrido ou não, o fato é que naquele momento algo estalou na cabeça do feirante de 26 anos.
Ele foi à sede do governo local para pedir os seus produtos de volta, mas o governador se recusou a recebê-lo. Então, ele comprou um latão de gasolina, jogou o combustível sobre si mesmo e acendeu um fósforo.
Mohamed Bouazizi foi levado às pressas para um hospital com queimaduras em 90% de seu corpo, mas seu ato de desespero levou multidões enfurecidas às ruas.
Onda de solidariedade
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Pressões populares levaram Ben Ali a visitar Bouazizi no hospital |
Mesmo tendo sido repreendidos com brutalidade, os manifestantes não recuaram. Pelo contrário, se tornaram mais audaciosos.
Quando Bouazizi morreu em decorrência de seus ferimentos no dia 5 de janeiro de 2011, os protestos se intensificaram. Centenas de pessoas foram mortas, milhares foram presas.
O então presidente da Tunísia, Ben Ali, um autocrata militar no poder há 23 anos, foi à TV pedir calma.
'Desemprego é um problema global'', afirmou. Ele atribuiu a violência a gangues de mascarados, chamando-os de ''terroristas''.
Assim como muitos líderes no mundo árabe, o presidente da Tunísia se via como um bastião contra o extremismo muçulmano. Ele acreditava que esse fato por si só lhe conferia carta branca para esmagar qualquer movimento que tivesse algum traço de democrático.
Mas ele subestimou o ressentimento de seu próprio povo contra o nepotismo, corrupção, privações econômicas e uma gestão pura e simplesmente incompetente.
Apenas nove dias após a morte do feirante, os tunisianos ouviram o primeiro-ministro anunciar que o presidente estava ''impossibilitado de exercer suas funções''.
Na verdade, ele fugiu subitamente com a sua família, primeiro tentando ir para França, que se recusou a deixar que seu avião pousasse. Depois, foi para a Arábia Saudita, que aceitou conceder-lhe asilo desde que ele reunciasse a todas suas atividades políticas.
O governo do presidente Ben Ali estava encerrado. Um processo desencadeado, em uma última instância, pelas ações de um quintandeiro frustrado.
Canções e poemas
Se Mohamed Bouazizi nunca tivesse nascido, muito provavelmente algum outro fator teria provocado a chamada Primavera Árabe, até porque essa erupção vinha se construindo há décadas.
Mas por todo o mundo árabe e até além dele, o nome de Bouazizi vem sendo eternizado em poemas, discursos e canções.
A moldura da ditadura inquestionável foi partida para sempre.
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