segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Europeus fazem anúncio na terça-feira sobre partícula de Deus

RAFAEL GARCIA
ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA

Cientistas da Cern (Organização Européia de Pesquisa Nuclear) se reúnem na terça-feira em Genebra para anunciar resultados do experimento que tenta confirmar a existência da última peça da teoria-mestra da física de partículas.

A sorte está lançada, e todos querem saber se o bóson de Higgs --a "partícula de Deus"-- apareceu.

O projeto, conduzido no acelerador de partículas LHC, busca entender por que os componentes dos átomos têm massa. A explicação mais simples é que a partícula hipotética (batizada em referência a Peter Higgs, que a postulou) daria massa às outras partículas.
Se o bóson de Higgs existe, pode surgir nas colisões entre núcleos de átomos que o LHC produz. Físicos passaram os últimos dois meses analisando informações medidas pelos experimentos.

Quem espera um glorioso "sim" ou um revolucionário "não" no anúncio de amanhã pode ter de se contentar com um "talvez". Dois experimentos separados, o Atlas e o CMS, competem para chegar à partícula primeiro. Oficialmente, não conhecem dados finais um do outro. Nenhum cantou vitória ainda.

Segundo os físicos, pode ser que um resultado positivo esteja próximo. A teoria prevê que o próprio bóson tenha massa, medida em escala de gigaelétron-volts (GeV, unidade baseada na massa do núcleo do hidrogênio).

INTERVALO CURTO

Inferências sugerem que a massa do Higgs é menor do que 170 GeV, e experimentos anteriores já tinham excluído a possibilidade de ser menos de 114 GeV. O LHC já vasculhou o espectro de 141 GeV até 500 GeV, sem achar nada. Resta uma pequena janela, portanto, de 115 a 140 GeV.

Os mais pessimistas não dão bola para as estimativas. "É besteira", diz o espanhol Luis Álvarez-Gaumé. "As teorias em si não estimam a massa do Higgs, que é um parâmetro livre totalmente arbitrário." Se o Higgs tiver algo "da ordem de 1.000 GeV, será muito difícil achá-lo no LHC", afirma o brasileiro Rogério Rosenfeld, da Unesp.

"Por enquanto, não tem ninguém se descabelando. Daqui a um ano, porém, se o Higgs ainda não tiver aparecido, vai ter muito chororô. E eu me incluo nisso", diz o americano James Wells.

Cientistas esperam ao menos uma pista razoável surgindo amanhã. O Modelo Padrão, teoria vigente da física de partículas, não fecha as contas sem o Higgs. Se o bóson não for encontrado, é preciso que exista outra entidade exercendo seu papel.

"Não há razão para pensar que o Higgs vai ser exatamente aquele previsto pelo Modelo Padrão, mas é preciso que seja algo parecido, porque muitas pistas indicam que não pode estar longe", diz o francês Christophe Grojean.

William Murray, um dos analistas responsáveis por procurar o Higgs no Atlas, ainda mantém seus dados sob sigilo. Mas admite que é possível surgir uma "pista" positiva da existência do Higgs. Se a partícula não existe, porém, será preciso esperar até mais um ano para o acelerador acumular dados que confirmem sua exclusão.

"Poderíamos dizer que temos 95% de confiança do resultado, por exemplo, ao declará-lo agora, mas isso ainda seria baixo para descartar o Higgs, que é a fundação de todas as especulações teóricas atuais", diz Murray. "Talvez seja preciso ter 99,9%."

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