Nossos parentes mais próximos, os chimpanzés, estão no centro de um
debate sobre as origens evolutivas do comportamento altruísta. É sabido
que nós humanos ajudamos os outros de forma espontânea, sem benefício
próprio imediato. E é crescente a evidência de que o mesmo também
acontece em macacos do Novo Mundo, como os macacos-pregos e saguis.
Entretanto,
o caso dos chimpanzés é ambíguo. Por um lado, a observação direta de
animais em vida livre e cativos indicaram a existência de inclinações
altruístas, como no caso de compartilhamento de comida, consolo de
animais aflitos, várias outras formas de empatia. Por outro lado,
estudos controlados em laboratório não encontraram evidências altruístas
consistentes.
Em nome do rigor científico, mais peso é dado para
experimentos controlados de laboratório. Então, conclui-se que os
chimpanzés são insensíveis ao bem-estar alheio. Isso criaria uma
anomalia evolutiva. Esse desaparecimento pontual de uma propensão
importante para a vida social disseminada entre os primatas seria no
mínimo misterioso.
No entanto, o próprio rigor científico faz com
que sejam apontados inúmeros problemas metodológicos quanto aos testes
padronizados de comportamento social altruísta. Buscando resolver esse
dilema, o famoso primatólogo Frans de Waal e seus colaboradores da
Universidade Emory em Atlanta, na Geórgia (EUA), desenvolveram um outro
teste controlado e realizaram um estudo de laboratório que mostrou
concordância com as observações de campo. Ou seja, nossos parentes mais
próximos também têm tendências altruístas.
Veja a reportagem que publicamos hoje explicando os detalhes da pesquisa que saiu hoje na revista científica "PNAS": "Fêmeas de chimpanzés gostam de ajudar as demais, diz estudo".
Mais
uma vez vemos o exercício do pensamento crítico na ciência em ação.
Suspende-se o julgamento quando não se tem provas suficientes.
Conclui-se provisoriamente baseado em provas, mesmo que isso vá contra
nossas primeiras impressões. E muda-se de posição com as devidas
provas em contrário.
Sabemos das limitações dos estudos em
laboratório para estudar as propensões naturais dos animais e sabemos
das limitações dos estudos de campo para saber qual fator influi de
forma decisiva em um comportamento. Ambos em conjunto, então, nos dão
uma visão ampla e mais confiável da persistência e importância do
altruísmo para nós todos, primatas.
(MARCO VARELLA)
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