Pois
aqui vai. Conversei com o cientista nesta manhã, e ele se disse
surpreso com a possibilidade de outros pesquisadores reavivarem suas
pesquisas. Baker, que teve sua reputação abalada por problemas nos
resultados de seus experimentos, diz que nunca duvidou de seu trabalho.
FOLHA
- Os experimentos que o sr. conduziu nas décadas de 1970 e 1980
acabaram não sendo bem aceitos pela comunidade científica. Agora, uma
revista prestigiada publica com destaque um novo estudo pedindo a
reavaliação da hipótese. O que aconteceu no meio dessa história?
ROBIN BAKER - Eu
passei dez anos testando a sensação magnética usando milhares de
voluntários sob todo tipo de condição, essencialmente tentando expor
humanos aos experimentos que haviam demonstrado com sucesso a
magnetorrecepção em outros animais. Os resultados foram acachapantes.
Apesar de algumas pessoas alegarem não terem conseguido replicar meus
resultados, cada uma delas usou apenas uns poucos voluntários, em uma
série de testes sem muito comprometimento. Eu mostrei que, quando se
soma todas as diferentes tentativas de reprodução em uma meta-análise,
seus resultados também são favoráveis. Ainda assim, ninguém parecia
preparado para acreditar em meus resultados ou nos deles próprios. A
essa altura, eu desisti, mudei minha linha de pesquisa para o “Sperm
Wars” [livro sobre evolução do sexo], e em 1996 troquei de vez a
academia por uma carreira de escritor. Pelo que eu sei, nada mais
aconteceu até aparecer na “Nature” esse estudo sobre os criptocromos
[proteínas sensíveis ao magnetismo].
O sr. acredita que seus estudos anteriores precisavam do apoio de trabalhos como este, usando biologia molecular?
Eles
não precisariam dessa nova evidência porque, na verdade, um estudo
pequeno sobre um composto químico em animais prova muito pouca coisa.
Seria mais correto dizer que esse novo estudo precisa de pesquisas como
as minhas, mostrando que humanos possuem sentido magnético, antes de seu
resultado significar alguma coisa. Mas nunca se sabe. Pode ser que
justamente esse estudo faça a diferença. Acho que uma das coisas que
atrapalharam a aceitação das pessoas à realidade da magnetorrecepção 20
anos atrás foi a ausência de um receptor químico óbvio. Então, talvez
ironicamente, esses novos resultados talvez sejam suficientes para virar
o jogo em relação à credibilidade. Eu ficaria fascinado em ver isso.
Mas
muitas observações em biologia são aceitas pelos cientistas sem que
haja uma explicação imediata. Por que não foi este o caso com a
magnetorrecepção?
Sabe
de uma coisa? Eu não tenho a menor idéia. Eu provei minha alegação além
de qualquer dúvida. E, coletivamente, ainda que não individualmente,
meus críticos tinham replicado meus resultados. Mesmo assim, não queriam
aceitar a realidade da magnetorrecepção. No final, concluí que, por
alguma razão, meus oponentes simplesmente não queriam acreditar que eu
tinha descoberto algo novo. Não havia nada mais que eu pudesse fazer
para convencê-los.
Fonte: Blog de Ciência/Folha.com
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